De dia professora e de noite DJ, a autora busca representatividade através da poesia
Samdra Dee, professora, DJ e produtora cultural de 46 anos, figurinha fácil da noite alternativa de Teresina, lança o livro de poesias “Antologia de uma corpa poética”. A publicação, que veio sendo produzida ao longo da vida de Samdra, acontece após performances com poesia em eventos culturais da cidade, a exemplo do Sarau Duna. A publicação será lançada em uma cafeteria da zona Leste de Teresina no dia 22 de maio.
No livro, que é a primeira publicação de poesias da artista, Samdra passeia por diversas fases da própria vida entre palavras, poemas e ilustrações. “Escrevo e desenho desde ‘queerzinha’. Aprendi a ler com as revistinhas da Turma da Mônica antes mesmo de entrar na escola. Desde que me entendia como ‘gente’, gastava meus dias lendo, escrevendo e desenhando. Me sentia uma pessoa de outro planeta por conta da minha identidade de gênero e assim me fechava neste casulo, desenhando bonecas de papel e roteiro de filmes e novelas, por exemplo”, conta a artista.
Samdra só sairia deste casulo quando passou a conhecer a noite do centro de Teresina, e, mais tarde, ao tornar-se DJ e personalidade da noite. Samdra, que chegou a cursar Artes na Universidade Federal do Piauí (UFPI), começou expondo ilustrações nos varais do extinto Bar Boemia. Depois, chegou a ter um prêmio de melhores da noite alternativa, o Samdice Awards. Hoje, atua como promoter da festa Bailerage.
O livro de Samdra tem diagramação de Alcides Jr. e apresentação de Fernanda Paz. “Ao completar 40 anos fiz aquela cobrança a mim mesma de plantar uma árvore e escrever um livro. Em 2019, prometi escrever qualquer coisa no fim de cada noite. Cumpri. O resultado está aqui nesta antologia. As artes vieram depois. Fiz esse livro pensando em homenagear várias mulheres que me inspiram e daí peguei minha mesa digital e ‘vamos lá, express yourself’. Desenhei várias queridas”, revela.
Sobre o título da obra, Samdra pontua a importância da valorização de uma escrita trans. Defender esta escrita foi um dos motivos para ela libertar a voz de sua “corpa”, pois são poucas autoras trans no mercado literário brasileiro e piauiense.
“Fazer uma poética trans é pura resistência. Nestes tempos de inteligência artificial e avanço da extrema direita, escrever tem sido um ato de rebeldia. Indo afronte a este sistema, cisnormativo que, além de querer nos calar e apagar, quer padronizar tudo. É hora de reagir! Penso que quando a gente lê um autor, a gente entra naquele corpo, aquela voz fica dentro da gente. Quero que as pessoas carreguem em si a minha voz de mulher trans. Tem exercício melhor de tolerância?”, acrescenta.
Lançamento
O lançamento de “Antologia de uma Corpa Poética” será dia 22 de maio, a partir de 18hs no Maria Café (Endereço: R. Eletr. Guilherme, 501 – Fátima). O evento conta com dj set de Lucrécio Arrais (SENTADO).
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